Moda: Um reflexo das relações sociais contemporâneas



O momento atual da moda
"O pensamento de Gilles Lipovetsky (2004) descrito na epígrafe deste capítulo representa bem o momento atual da sociedade moderna, com o relógio social exigindo mais do relógio biológico, a dinâmica do mundo muda e o homem luta consigo mesmo num estado de superação constante, onde o que importa é a competência demonstrada. E o indivíduo sem tempo para si e sem tempo para o outro vive nos intervalos das atividades cotidianas.

O campo da moda, submetido à dinâmica do mundo moderno, adquire nova forma, calcifica sua relação com o poder imagético conquistado pelas formas; altera as percepções do eu* do outro; mistura satisfações e desconfortos; sujeita o homem ao mundo do visual.
A raça humana nunca assistiu a tamanha força da imagem. O cinema, a televisão, o jornal, enfim, as mídias visuais trabalham com a estética de maneira violenta e fascinante, despem o homem-comum de valores, na construção de novos modelos, fazendo com que ele se depare com imposições sociais que o orientam a um destino ligeiro de sentidos e repleto de experiências.

*O eu, aqui, é entendido como expressão mais íntima do homem – valores construídos e elaborados a partir da socialização dos indivíduos.

Para Lipovetsky (2004, p. 26), vivemos "numa sociedade liberal, caracterizada pelo movimento, pela fluidez, pela flexibilidade; indiferente como nunca antes se foi aos grandes princípios estruturantes da modernidade, que precisaram adaptar-se ao ritmo hipermoderno para não desaparecer".

A sociedade do consumo absorve o arsenal de sentidos para minimizar as expressões do indivíduo no ambiente social, onde manifestações sociais de nada repercutem se não forem acompanhadas de uma dose de loucura e violência – únicas linguagens capazes de irromper o sistema, fazendo-o questionar os valores vigentes.

Assim, a moda aparece numa arena de lutas nada poéticas, onde as armas são o corpo e a mente voltados a se adaptarem ao que é focado pelo sistema. A moda explora o corpo no seu íntimo, extrai dele todo e qualquer sentido que lhe pareça oportuno. E nesse fermento para o espetáculo, a moda transita no centro dos fenômenos estéticos do século XXI, renascendo, no novo século, para ser a responsável pela expressão do homem-comum, a expressão nascida do íntimo e exposta no corpo – o instrumento da intimidade".


Texto de Felipe Soares Rocha